O processo de leitura e escrita: Um
estudo comparativo entre Kleiman e Matêncio
Por: JOSÉ MARCOS ROSENDO DE SOUZA
RESUMO
Atualmente, os alunos tanto do Ensino
Fundamental quanto do Ensino Médio, têm apresentado cada vez mais dificuldades
nos processos de leitura e escrita, isto deve-se ao fato de que eles apresentam
um alto grau de desmotivação, e também devido estarem inseridos em uma
sociedade em que predomina a tecnologia. Mas, principalmente, porque o
professor trabalha este aspecto de modo a reproduzir decodificar e avaliar os
conhecimentos dos alunos conforme lhe fora transmitido, desconsiderando a
atividade crítica, cognitiva e interacional. Neste sentido, a presente pesquisa
visa discutir uma reflexão sobre as dificuldades dos alunos no que diz respeito
a prática de leitura e escrita, e assim compreender as concepções a cerca dos
processos de leitura e escrita segundo as autoras Kleiman (2000) e Matêncio
(1994), cujo o objetivo é conscientizar os educadores sobre sua prática de
ensino e incentivar a adotarem uma metodologia centrada em uma abordagem
interacionista que leve em consideração não só o seu conhecimento, mas o
conhecimento de mundo do próprio aluno.
Palavras-chave: Processo, leitura, escrita
Leitura é um fator importante na
educação escolar, porque constitui um instrumento necessário para a realização
de novas aprendizagens, no entanto, seu conceito tem sido compreendido
tradicionalmente como um ato mecânico de decodificação de palavras. Sendo
assim, a leitura deveria ser vista como um processo de ensino/aprendizagem que
vai além de um simples ato de decodificar, pois envolve uma complexidade e
exige sacrifício, é também descobrir e descobrir-se.
Conhecer as suas concepções é
fundamental para que o educador possa refletir seriamente sobre a importância
que ela tem para o educando como processo de ensino/aprendizagem. Assim, em uma
sociedade em que prevalece a tecnologia e a transmissão de cultura, o educador
precisa conhecer as estrategias de leitura e procurar desenvolver no educando o
domínio dessas estratégias, possibilitando, desta forma, uma leitura
significativa e principalmente a função que ela exerce tanto dentro como fora
do ambiente escolar. Por isso, deve-se levar em conta que escola e sociedade
estejam comprometidas com a leitura, com a formação de leitores para toda a
vida.
Diante do exposto a presente pesquisa
abordará o processo de leitura e escrita, através de uma abordagem comparativa
segundo os estudos de Kleiman (2000) e Matêncio (1994).
Focalizando o estudo de Matêncio
(1994) sobre o processo de Leitura e Escrita: Natureza e Desenvolvimento do
Processo, analogicamente com o estudo de Kleiman (2000) a respeito da Concepção
Escolar da Leitura, ambos visam discutir e promover uma reflexão sobre as
dificuldades presentes nos alunos, devido a uma prática escolar não adequada ao
processo de desenvolvimento da leitura e da escrita e, consequentemente não
favorecendo o avanço do conhecimento do aluno, o que, provavelmente tende a
aumentar as dificuldades no processo ensino/aprendizagem.
Com o estudo de Matêncio (1994)
percebe-se que um dos problemas mais frequentes nos alunos relaciona-se à
escrita e à leitura que, por sua vez representam parte das dificuldades que os
mesmos apresentam em uma sociedade, na qual os indivíduos necessitam tanto
compreender o sentido da leitura e da.
A autora define que o problema do
ensino/aprendizagem está voltado para a associação das letras com a diversidade
de símbolos que o aluno deverá reconhecer e com a maneira pela qual está sendo
trabalhada em sala de aula, pois a noção que se transmite é que as letras
definem-se por símbolos representativos dos sons e da fala e, portanto, a
escrita originou-se por meio da oralidade, mas, de fato, a autora atenta a
concepção da escrita de que, apesar dela estabelecer uma relação com a fala, a
mesma tem uma proximidade ainda maior com os símbolos humanos que, por sua vez
antecedem a fala, apresentando diversas funções em um meio social em que o
aluno deverá desenvolver através do seu conhecimento cognitivo e procurar
decodificar esses símbolos e compreender a informação que transmitem.
Sendo assim, torna-se perceptível que
uma “falsa” abordagem em relação a escrita, traz à tona dificuldades ao se
trabalhá-la na escola, visto que o próprio processo de escrita e leitura, não
podem ser separados e, uma precede a outra.
Logo, esse conceito adotado em sala
de aula promove, de certa forma, um desinteresse pela leitura nos alunos,
resultando ainda mais em uma precariedade do letramento tanto no âmbito escolar
quanto na vida social. Kleiman (1994) expõe esse aspecto que torna-se uma
rotina no decorrer da vida escolar dos indivíduos, enfraquecendo o
relacionamento dos mesmos com o universo da leitura e consequentemente
interferindo no processo ensino/aprendizagem.
Por conseguinte, torna-se necessário
ratificar que no contexto escolar, o que se percebe, são alunos desmotivados,
sem interesse pelo ato de ler, limitando-se a serem apenas meros decodificares
de letras, especificamente leitores passivos.
Para tanto, segundo as concepções das
autoras, elas concordam que uma das razões que tem contribuído para esse
fracasso, relaciona-se ao fato de que esta assume o papel, apenas de ser
trabalhada como método avaliativo, isto é, a leitura torna-se avaliação com a
função de verificar se o aluno ler bem, se apresenta alguma dificuldade em
determinadas palavras, limitando o conhecimento dos alunos à gramática,
verificação de nomenclaturas, concordância, ou seja, desmerecendo o sentido que
pode ser dado ao texto a partir de seu conhecimento cognitivo, e pelo próprio
texto.
Kleiman (2000, p.
107) apud Gomes & Souza
(2010, p. 5) apresenta três concepções que a escola tem de leitura:
·
A leitura como decodificação, na qual as atividades se restringem ao
reconhecimento de palavras idênticas no texto, nas perguntas ou comentários;
·
A leitura como avaliação, em que essa deve ser feita em voz alta para
verificar se a pontuação e a pronúncia estão corretas ou por meio de resumos,
relatórios, preenchimento de fichas;
·
A interação numa concepção autoritária de leitura, que pressupõe existir
somente um meio de abordar o texto, e uma interpretação a ser dada.
Ainda segundo Kleiman (2000), esta
prática tem desmotivado o interesse do aluno pela leitura, pois os deixa
inibidos, principalmente se for feita em voz alta, avaliando também o domínio
da língua padrão, com isso o aluno fica ressentido e acaba perdendo o gosto
pelo ato de ler. Portanto, ele compreende que a leitura é uma atividade, pela
qual serão avaliados mediante este aspecto e não como um exercício que deveria
proporcionar prazer, conhecimento e proporcionar a construção de um pensamento
crítico.
Concordando com
esta asserção, Suassuna (1995) apud Gomes & Souza
(2010, p. 4) afirma que
[…] quando o aluno [ler] sem prazer
sem o exercício da crítica, sem imaginação, quando não faz da leitura uma
descoberta, um ato de conhecimento, quando somente reproduz, nos exercícios a
palavra lida do outro, consequentemente não poderá intervir sobre aquilo que
historicamente está posto. Portanto, deve-se formar leitores capazes de ler
criticamente, aptos para interferir na realidade em que estão inseridos.
Outro aspecto que as autoras destacam
em relação a escrita e a leitura relaciona-se a dificuldade de compreensão e de
interpretação das palavras. Isso deve-se ao método de aplicação dos textos
limita-se unicamente a retirada de informações superficiais, não permite a
interação do leitor com o texto, favorecendo a participação em diálogos,
debates, opiniões, possibilitando a construção de novos conhecimentos. Mediante
asserção, o processo de leitura favoreceria não só a decodificação de palavras,
mas, a partir desde buscaria novos sentidos reconstruindo o próprio texto.
Kleiman (2000) propõe o seguinte
critério para a solução desse empasse que seria de passar para o aluno uma
quantidade maior de atividades em torno dos textos que já foram lidos por eles,
a fim de que o mesmo desenvolva seus conhecimentos com as informações que
obteve com a leitura dos textos e relacionar com o conhecimento prévio de
mundo.
Confrontando Kleiman (2000) e
Matêncio (1994) torna-se perceptível que elas concordam em relação as
concepções sobre o método, pois a leitura é trabalhada como papel fundamental
de uma atividade voltada para o ensino gramatical. Tendo em vista, que esse
também se encontra nos livros didáticos, os quais são utilizados apenas como
meio reprodutor de informação e conhecimento, excluindo o conhecimentos dos
alunos, tornando-se um ato de imposição, sem compreensão.
Com efeito, Kleiman (2000) e Matêncio
(1994) propõem alternativas no que diz respeito a concepção de leitura , a qual
propõe-se que a leitura seja trabalhada de diversas maneiras, tendo em vista
que mostrar que um texto pode apresentar diversas maneiras de ser trabalhado e
com funções diversificadas, dando ao aluno a oportunidade de interagir não só
com os colegas mas com o próprio texto, levando-o a questionar-se em relação as
intenções do autor em abordar esse tema, levantar hipóteses, ter um
posicionamento positivo ou negativo, dentre outros aspectos.
Sendo assim, nesta perspectiva Freire
(1986, p. 22) afirma que […] “ler não é só caminhar sobre as palavras, e também
não é voar sobre as palavras. Ler é reescrever o que estamos lendo. É descobrir
a conexão do texto, e também como vincular o texto/ contexto com meu contexto,
o contexto do leitor”.
Neste sentido, a prática em sala de
aula contribui de forma significativa para o desenvolvimento desse processo, no
entanto o que se percebe, é uma prática defasada, limitada, sem maiores
envolvimentos dos fatores do processo de ensino aprendizagem: professor/aluno.
Segundo essa prática Kleiman (2000,
p. 24) afirma que
A prática de sala de aula, não apenas
da aula de leitura, não propicia a interação entre professor e aluno. Em vez de
um discurso que é construído conjuntamente por professores e alunos, temos
primeiro uma leitura silenciosa ou em voz alto do texto, e depois, uma série de
pontos a serem discutidos, por meio de perguntas sobre o texto, que não leva em
conta se o aluno de fato o compreendeu. Trata-se, na maioria dos casos, de um
monólogo do professor para os alunos escutarem. Nesse monólogo o professor
tipicamente transmite para os alunos uma versão, que passa ser a versão
autorizada do texto.
De fato, a leitura é um processo em
que o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto.
Por isso, cabe ao professor utilizar uma metodologia de ensino mais eficiente e
que esteja de acordo com as necessidades do aluno, em que é preciso apoiar-se
em diferentes estratégias.
Desse modo, Matêncio (1994) atenta
para se trabalhar a leitura em um sentido de construir significados e não
somente buscar significados, o que de fato ocorre nas escolas, através de
atividades de leitura em que a participação do aluno seja fundamental,
observando o grau de dificuldade tanto gramatical quanto a compreensão que eles
apresentam, pois dessa forma haverá o aprimoramento do conhecimento cognitivo e
linguístico. Portanto, torna-se relevante de forma clara a ampla variedade de
informações que o texto pode proporcionar através de uma leitura significativa
e proveitosa sem dispensar a participação do leitor.
Enfim, é fundamental que a leitura e
a escrita possam oferecer ao aluno a possibilidade de descobrir caminhos à
aprendizagem significativa, de forma que, o mesmo interprete, divirta-se,
sistematize, confronte, documente, informe, oriente-se e reivindique trazendo
assim conhecimento em benefício de formas de expressão e comunicação possíveis,
reconhecidas, necessárias e legítimas em um determinado contexto cultural.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo &
SHOR, Ira. Medo e Ousadia: o cotidiano
do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
GOMES, F. F. L.
& SOUZA, J. M. R. Os caminhos para o ensino
produtivo de língua portuguesa. V Semana de Letras – Linguagem e
entrechoques culturais. Língua, literatura e cultura brasileira. Catolé do
Rocha – PB. 2010.
KLEIMAN, Ângela. A concepção escolar da leitura. In: Oficina de
leitura. Teoria e Prática. 7ª ed. Campinas: Pontes, 2000.
MATÊNCIO, Maria de
Lourdes Meirelles. Escrita e leitura: natureza do processo. In: Leitura, produção de textos e escola. Reflexões sobre o
processo de letramento. Campinas: Mercado de Letras, 1994.
Colaboradores
Maria das Graças Pereira de Araújo
Jucenária Azevedo Dias
A leitura nos fortalece, amplia nossos conhecimentos e ainda nos faz sonhar... Quanta coisa boa te para nos proporcionar e ainda tem quem se recusa a experimentar...
ResponderExcluirO professor que lê desperta o interesse de seu aluno, caso contrário ele não terá vontade nunca, a não ser que traga o gosto pela leitura de casa.
Ler é um sonho! Amo o envolvimento que a leitura oferece e sempre que leio me imagino dentro da história escolhida. Dependendo da situação até me emociono como se o acontecido fosse comigo.
Márcia T. Ortega (grupo 05).